sábado, 12 de janeiro de 2013

O VÉU DA ACTUALIDADE



"A partir do momento em que renuncias ao acordo com os outros, tu renuncias para toda a eternidade a saber o que é o bem e o que é o mal. Se queres ser boa, tens que ser persuadida, primeiro, de que o mundo é bom. Ora, nem tu nem eu estamos persuadidos disso. Vivemos numa época em que a moral está em decomposição ou em convulsões. Mas, pelo amor dum mundo que pode ainda vir, devemos manter-nos puros!"


"O homem sem qualidades" de Robert Musil


É o acordo com os outros que torna possível a linguagem e a razão. E a consciência individual não se pode conceber sem elas. Como renunciar, pois, ao acordo com os outros?

A única maneira não é a de se fazer eremita e viver para Deus ou para os mortos. As grandes ideias da metafísica como totalidade e eternidade são filhas da razão. A única maneira é a de extinguir o fogo de Prometeu e apagar a luz do espírito.

Acreditar na bondade do mundo só poderá significar que o mundo é racional, o que supõe a necessidade do acordo com os outros e que o desacordo, a falência da razão, o predomínio do mal, ou a indistinção entre o bem e o mal, são o próprio nervo dessa crença.

Ulrich, é levado a descrer dos contemporâneos, por isso deposita a sua esperança no futuro, o que é ser racional, apesar da razão. Como se a realidade fosse ocultada pelo véu da actualidade.

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