quinta-feira, 27 de setembro de 2012

USURA




"(...) enquanto os arquiduques morriam com uma bomba nos joelhos, dez milhões de homens passavam ao matadouro, seis milhões de outros se faziam mutilar e os bancos emprestavam a juros acumulados somas cinco vezes superiores à massa monetária em circulação no mundo. Ah, os bancos! Solenes, forrados, sagrados."

"Da Vinci's Bicycle" (Guy Davenport)



Isto faz parte duma fantasia sobre Walser e a Primeira Guerra Mundial. Mas, no que aos bancos diz respeito, reconhecemos a impressão digital. São mesmo assim. Mas os banqueiros 'só' têm sobre o resto da humanidade o poder de representarem todas as reincarnações satânicas do dinheiro, muito para além da sua função 'institucional'.

A simbólica do ouro cuja importância se pode verificar em todas as civilizações está presente no poder que se atribui ao dinheiro. Mas o facto da 'alma dum mundo sem alma' se ter tornado 'abstracta', sem ligação à experiência infantil (na visão freudiana) parece tender para uma maior 'desumanização', a par dum domínio de sistema, que estabelece as condições favoráveis a um jogo da sorte, com pseudo-banqueiros.
  
A 'economia' independente da realidade é a ideologia dos novos usurários. Eles não trabalham já para 'maior glória de Deus', mas para os seus bónus. A responsabilidade pessoal num sistema que opera à velocidade da luz e que tem de confiar em especialistas do algoritmo financeiro para ter um pretexto de racionalidade, equivale à 'confiança' no sistema e justifica, por parte dos pretensos decisores, o escandaloso serviço de si próprios.

A Banca tornou-se para os 'happy few' um sistema auto-colector no centro do furacão económico.

0 comentários: