terça-feira, 25 de setembro de 2012

A CANÇÃO FRIA

"The cold song" (Andreas Scholl)


"Que posso então fazer pela alma que me habita tal um enigma por resolver?"

Novalis (citado por Ágata, personagem de Musil)




Pergunta 'finissecular' que exprime todo o cansaço do ser. A alma aparece nesta Cacânia da Europa central como um prestigiado, mas decadente testemunho dum mundo que já foi.

A sua importância central na civilização judaico-cristã perdeu-se sem se dar por isso. A sua inutilidade para o mundo moderno (pois que a maior parte de nós vive "sem se colocar essa hipótese", como um astrónomo célebre disse a Napoleão a propósito do lugar de Deus no seu sistema) é uma daquelas evidências de que não se podem tirar todas as consequências por serem falsas.

Assim, Ágata, ociosamente, se pode perguntar o que pode fazer pela sua alma. É óbvio que ela nada tem a ver consigo e o seu valor  é o dum problema estético.

Porque é uma pessoa culta, sente-se na obrigação de a chamar à vida, inconsequentemente.

A alma responder-lhe-á, sem dúvida, com as palavras da "Cold song" de Henry Purcell:


"What power art thou, who from below
Hast made me rise unwillingly and slow
From beds of everlasting snow
See’st thou not ( how stiff )
and wondrous old
Far unfit to bear the bitter cold,
I ( can scarcely move or draw my breath )
Let me, let me freeze again to death."

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