domingo, 2 de setembro de 2012

PERMISSÃO DE INFIDELIDADE





"Até ao dia em que me direis: tal homem sentiu mais energicamente, compreendeu mais intimamente o que eu sou, e posso ser, do que vós - até esse dia não haverá nenhuma infidelidade, e nada, absolutamente nada mudará entre nós."

(Franz Liszt)


Liszt escreve assim a Marie d'Agoult sobre o seu pedido duma 'permissão de infidelidade'. Mas parece que o contrário do que diz o honraria mais.

Afinal, ele não se consideraria traído por a condessa lhe preferir um amante inferior. É o seu amor próprio, parece, que sofreria por ser ultrapassado por um maior amor do que o seu.

De resto, as suas condições para, aos seus olhos, se poder falar em infidelidade, não se referem ao amor, mas a outra coisa. A 'energia' do sentimento, que talvez se confunda com a 'paixão', é quase sempre incompatível com a compreensão... O que melhor nos compreende só é aquele que nos ama quando o reflectimos na nossa própria imagem. Como o amor da mãe que se revê no seu bebé. E o que haveria aqui, de facto, a compreender?

1 comentários:

João Esteves disse...

Qualquer ato de infidelidade, quando consentido deixa de ser realmente infidelidade. Interessante no caso é que houve solicitação, acredito. Ela parece ter dito que desejava ter aventuras e se pede consentimento é porque pretendia agir de acordo com a resposta, qualquer que fosse. Tacitamente, dispõe-se com isto a ser obediente em caso de solicitação negada. Em assim sendo, considero isto um tremendo requinte de fidelidade, da parte dela. Quanto mais se levarmos em conta a época e as circunstâncias sócio-culturais da personagens.