"Até ao dia em que me direis: tal homem sentiu mais
energicamente, compreendeu mais intimamente o que eu sou, e posso ser, do que
vós - até esse dia não haverá nenhuma infidelidade, e nada, absolutamente nada
mudará entre nós."
(Franz Liszt)
Liszt escreve assim a Marie d'Agoult sobre o seu pedido
duma 'permissão de infidelidade'. Mas parece que o contrário do que diz o honraria mais.
Afinal, ele não se consideraria traído por a condessa lhe
preferir um amante inferior. É o seu amor próprio, parece, que sofreria por ser
ultrapassado por um maior amor do que o seu.
De resto, as suas condições para, aos seus olhos, se
poder falar em infidelidade, não se referem ao amor, mas a outra coisa. A
'energia' do sentimento, que talvez se confunda com a 'paixão', é quase sempre
incompatível com a compreensão... O que melhor nos compreende só é aquele que
nos ama quando o reflectimos na nossa própria imagem. Como o amor da mãe que se
revê no seu bebé. E o que haveria aqui, de facto, a compreender?
1 comentários:
Qualquer ato de infidelidade, quando consentido deixa de ser realmente infidelidade. Interessante no caso é que houve solicitação, acredito. Ela parece ter dito que desejava ter aventuras e se pede consentimento é porque pretendia agir de acordo com a resposta, qualquer que fosse. Tacitamente, dispõe-se com isto a ser obediente em caso de solicitação negada. Em assim sendo, considero isto um tremendo requinte de fidelidade, da parte dela. Quanto mais se levarmos em conta a época e as circunstâncias sócio-culturais da personagens.
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