quarta-feira, 26 de setembro de 2012

CÂNDIDA





Soares de Passos foi um expoente daquele romantismo mórbido com um lugar merecido na nossas selectas. É nele que penso quando subo as escadas do pequeno cemitério de Valongo, para copiar estes versos, de ano para ano menos legíveis (em todos os sentidos):

Sob esta lousa que o meu pranto lava,
A estes cansados olhos te escondeste,
Filha chorada sempre em que eu achava
Meu porvir que morreu quando morreste.
Tu por quem eu só a vida amava (?),
Anjo pede p'ra mim ao Pai celeste
Em paga deste amor, desta saudade,
Um lugar junto a ti na eternidade.


Assim, uma menina de seis anos, Cândida Inocência de seu nome, deixava esta vida, em 1849, um ano depois de Marx e Engels terem escrito um texto célebre, dando início a um movimento de renovação das ideias sociais que iria mudar a face do mundo.

Estes dois acontecimentos, sem nenhuma ligação entre si, sempre me impressionaram, como se aquela poesia simbolizasse uma época que se despedia, na esteira dum anjo e se começasse a ouvir o "allegro con furia" do Manifesto.

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