Esta volatilidade das massas que as faz juntarem-se quase
instantâneamente através das redes sociais, sem os habituais prazos de
convocatória, sem a preparação das manifestações organizadas, é já a
'democracia electrónica'?
É pelo menos o sonho de qualquer demagogo (se a internet
não fosse, aparentemente, um meio hostil aos efeitos do carisma
político). Podemos imaginar onde isso nos poderia levar o referendo
automático e em 'tempo real'.
A diferença em "How to murder your wife", o
filme de Richard Quine (1965), entre o 'ter ganas' de matar o cônjuge, que nunca se concretiza, por falta de oportunidade ou por causa das consequências legais, e o botão (o
mesmo da arma nuclear na ficção) que transforma a matéria do crime numa
abstracção mais rápida do que a velocidade da luz e que parece que não nos diz respeito, é
que esse botão é apenas, até agora, uma hipótese.
A verdade é que o governo (qualquer governo) é o
contrário dessa participação instantânea do 'povo-povo', como lhe chamou o
professor Marcelo.
A democracia representativa, por força dos desenvolvimentos tecnológicos, entre outros factores de ordem cultural, parece ter
chegado à hora da verdade. A natureza sobretudo simbólica do voto de 'quatro em
quatro anos' surge agora na sua simplicidade 'franciscana', de acordo, aliás, com
a crítica de Marx.
Mas a verdade é que ainda não se inventou a crença que o
vai substituir. Se a política democrática (que se julga a mais civilizada de todas)
consiste em tratar de soberano um povo que se tem de 'levar pelo cabresto', então a internet já passou a sua sentença.
Haveremos de chegar ao dia em que uma mentira tão
flagrante seja substituída pelo 'realismo' necessário, poupando a nossa
inteligência a uma ofensa tão gratuita.
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