"O seu capuchino reflecte o ponto de chegada de um sistema de espantosa complexidade. Não há uma única pessoa no mundo que consiga produzir o que é preciso para fazer um capuchino. O economista sabe que o capuchino é o produto de um esforço de equipa incrível. E não apenas isso, que não há ninguém responsável por essa equipa. O economista Paul Seabright recorda-nos a dificuldade que encontrou o funcionário soviético tentando compreender o sistema ocidental: 'Diga-me...quem é o responsável pelo fornecimento do pão à população de Londres?' A pergunta é cómica, mas a resposta - ninguém - é atordoante."
"The Undercover Economist " (Tim Harford)
Harford releva a vertiginosa estranheza de um sistema que parece 'auto-regulado'. A economia 'tout court', especialidade dos economistas, os quais têm de sustentar uma visão coerente de como as coisas funcionam, através de modelos matemáticos, de técnicas estatísticas e de teorias sociológicas sobre os contextos e as categorias sociais, etc, etc., têm os seus créditos estabelecidos por uma longa predominância da sua 'interpretação do mundo', uma interpretação que pretendem pragmática e, sobretudo, realista. Assim, é natural que não se interrogue excessivamente sobre os próprios fundamentos e seja particularmente cega quanto a qualquer sentido de estranheza.
Porque o que é racional, inteiramente racional, é a atitude do funcionário soviético ali referido. Há um inventor ou inventores para as novas máquinas e as organizações que tornam possível a sua produção e distribuição têm um administrador ou um director técnico. A própria Revolução soviética é uma encarnação desse poder responsável, como o engenheiro à frente de um projecto competentemente elaborado. Essa é uma ideia esplêndidamente mecânica. Por isso, a incompreensão do burocrata perante uma auto-regulação obedecendo a uma finalidade racional explica-se facilmente, embora possa existir um erro calamitoso na base da sua percepção do mundo.
Mas os economistas do 'sistema ocidental' só se saíram bem enquanto a prova se cingiu à 'existência do pudim' que, como se sabe é comê-lo. Mas o abuso desregulatório de aumentar a dose de entropia do sistema e de confiar cegamente na 'Mão Invisível' só lhes trouxe confusão e erro e levou-nos a todos à beira de outra 'implosão' atordoante.
Nem se pode dizer que o mundo esteja a ser bem interpretado. E os 'aprendizes de feiticeiro' não podem distinguir-se pela racionalidade.
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