"Sendo certo que um homem douto pode também dizer muita asneira quando não tem doutrina fundada e de bom gosto."
(Luís António Verney)
De doutrina que não doutrinário, e é o 'bom gosto' que nos preserva de tal excesso. São os novos tempos que se fazem anunciar. O século XVIII é o século de Newton e de Kant. William Harvey, nascido no anterior, foi o homem que 'descobriu' a circulação sanguínea, enquanto sistema.
O nosso 'estrangeirado' proclamou uma nova verdade que era inconcebível no Portugal desse tempo: o valor do juízo individual, sem se submeter a feudalidades religiosas ou monárquicas.
Sim, e essa 'mentalidade', esse movimento do espírito, só agora dá mostras de passar o testemunho a um outro tipo de juízo que já não parece residir no indivíduo. Um sintoma: a democracia tem um 'bug' que pode levar à sua destruição. As suas virtudes churchilianas em desespero de causa dependiam de um sujeito mítico que era o Povo. Dizia-se que a participação 'popular' provaria todas as promessas virtuais da democracia. Esse escopo foi finalmente atingido, e mais do que atingido, superado.
A era digital trouxe-nos a apoteose da 'participação' através da internet e das redes sociais. Mas o que surgiu dessa autêntica revolução não foi a entidade mítica, não foi o mito tornado 'realidade concreta', foi o mundo dos 'sistemas-caóticos'. O Povo sai da cena humanista com a entrada triunfal dos 'utilizadores'. O sujeito, esse grande espelho formador e deformador, vai juntar-se, no museu das metamorfoses, 'ao fuso e à roca e à de fiar'.
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