"(...) o erro sem remédio é o de crer que se aprende pela experiência, sem ideias. Eis, agora, por onde Sócrates volta. Este preconceito empírico não existe tanto pela preguiça como por um certo 'parti pris' contra a reivindicação do justo. Porque o justo é inoportuno. E mais escondida do que a ideia da sequência dos números ou das propriedades do quadrado e do triângulo. Mas o justo vai corajosamente para lá da dialéctica, afirmando que a experiência, também aqui, não julga; que o sucesso não vem ao caso; que a justiça, enfim, é a alma da alma, e que a alma injusta está em vias de perecer."
"Abrégés pour les aveugles" (Alain)
Podíamos tentar esquecer esta ideia da justiça. Demonstrar que não faz sentido face à eficácia do método tecnocrático, com tantas pseudo provas; que é uma ideia perigosa para o Estado ou para os grandes conglomerados empresariais que cuidam (ele há tantos filantropos!), com toda a informação possível e com a tecnologia mais actualizada, dos interesses de todos. Qualquer outra alternativa significando a desordem e a regressão económica e social.
Mas Sócrates diz, segundo Alain, que a matemática e a geometria não representam o melhor do homem e são uma parte do conhecimento da natureza (humana), que, no entanto, se basta a si própria, porque é independente da vida. É essa perfeição que a reivindicação da justiça vem, sem maneiras, despertar do seu 'sono dogmático'.
Platão prezava tanto o conhecimento da natureza que colocou no frontão da sua Academia a famosa intimação: "não entres se não fores geómetra." Seguir-se-á que a justiça não é uma ideia 'laica' e que é necessário um átrio religioso para chegar a ela? Uma preparação que passa pela explicação do conhecimento geométrico?
A nossa época instalou a Economia no ápice do conhecimento, com as funções do Destino e investida dos atributos racionais de uma filha de Zeus e os irracionais de uma Fúria.
Todas as almas injustas estarão em vias de perecer, mas esse assemelha-se muito ao destino do comum dos mortais. Como escapar a essa lógica, quando perdemos o passado e o bezerro de oiro ocupa o horizonte?
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