domingo, 15 de janeiro de 2017

AS VALQUÍRIAS DO PALAIS-ROYAL

(As Norns, origem das valquírias nórdicas)

"Eram precisas raparigas; não essa raça franzina que vemos nas ruas, próprias para confirmar os homens na continência. As raparigas que então se passeavam eram escolhidas, não será necessário dizê-lo, como se escolhem nos pastos normandos os gigantescos animais, florescentes de carne e de vida, que se mostram no carnaval. O seio desnudado, os ombros, os braços despidos, em pleno Inverno, a cabeça enfeitada de enormes ramos de flores, dominavam de alto toda a multidão de homens. Os velhos recordam-se, do Terror ao Consulado, de ter visto no Palais-Royal quatro loiras, colossais, enormes, verdadeiros atlas da prostituição, que, mais do que qualquer outra pessoa, carregaram o peso da orgia revolucionária."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)

Sente-se nesta descrição a carga genésica que o grande historiador atribui à Revolução. Mas escassos três anos decorridos após a tomada da Bastilha, o povo de Paris está exausto e desmoralizado pelos massacres. Os burgueses fecham-se em casa, amedrontados, perante os excessos da sua revolução. Marat sente o poder escapar-se-lhe das mãos assassinas e desabafa: "O enfado e o cansaço tornaram as assembleias inúteis".

Outras paixões, que não as da acção, tomam conta dos espíritos sobreexcitados, aos quais já só as sensações mais fortes dão o sentimento da vida. As valquírias do Palais-Royal parecem ocupar a cena, enquanto na "casa das máquinas" se preparam os silogismos do Terror.

Todas as revoluções conhecem esse momento de perigo em que se transformam numa engrenagem. O povo deu-lhes a amplidão oceânica, mas o recuo da maré põe a nu de que é feito o poder e como rapidamente se tem de articular e de crescer. O Terror apenas limpou terreno.

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