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"Entre as perturbações do crescimento histórico, ao primeiro nível está a Graça: a Graça, sempre a par da Justiça, é o arbitrário - divino ou humano -, é o capricho, teocrático ou tirânico, oposto à regularidade da Lei natural (lei republicana). Este par, meio-moral, meio-vitalista, arrasta uma verdadeira dicotomia da História: tudo na História é Graça ou Justiça, Fatalidade ou Liberdade, Cristianismo ou Revolução. A História não é outra coisa senão o combate de uma e de outra, sucessão trágica de paragens e impulsos: a Síria, Alexandre, os Judeus, o culto de Maria, os Jesuítas, a Monarquia, Spinoza, Hegel, Molinos, Hobbes: a Graça, A Pérsia, a Grécia, os Valdenses, a Feiticeira, os Protestantes, Leibniz, Hoche, o século XVIII: a Justiça."
"Michelet" (Roland Barthes)
É mais razoável, no fim de contas, considerar a Justiça como um resultado (das boas leis, da boa organização) ou como algo de imprevisível e "caprichoso", arbitrário, como a Graça?
Seria mais razoável se o homem se explicasse pela Razão (ou pela falta dela). Mas tudo é novo e inesperado, troçando dos nossos planos individuais ou colectivos, pelo que a Graça podia ser outro nome para a Fortuna.
Mas como é preciso que o homem viva em sociedade, chamemos justiça a uma certa ordem (aquela que decorre automaticamente das instituições). E quanto à verdadeira justiça, a de homem a homem, atribuamos-lhe, como Michelet, o belo nome de Graça.
Para sermos justos, precisamos de algo mais do que a vontade.
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