quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

GUERRA E PAZ

Leão Tolstoi (1828/1910)

Alain começa por nos advertir, a propósito de "Guerra e Paz", contra a tentação de ler o desfecho para encontrar logo a "doutrina sublime".

Porque sem a evolução das personagens, que vão deixando para trás as suas ilusões, ao encontro dessa doutrina, não temos nada e não podemos julgar. O juízo é uma decisão que "ultrapassa e conserva todos os momentos duma vida".

Que substância teria a figura de Natacha Rostova, por exemplo, se em vez da jovem apaixonada que conhece no príncipe André o seu ideal e, devido à longa ausência imposta pelo velho Bolkonski, perde a fé, para se deixar seduzir por um biltre, abrir os olhos para esse abismo, expiar a sua falta e merecer o perdão do príncipe moribundo, tivéssemos só aquilo em que se tornou, a mulher sensata e pacificada que uniu o seu destino ao amigo de sempre, Pierre, o homem que mesmo no momento da sua queda se considerava ainda indigno dela?

No turbilhão, não há "centro humano", nem "centro divino", há uma realidade que se impõe a todos e a todos apanha desprevenidos e com "ideias da idade da pedra". Mas são essas ideias que nos permitem mudar e adaptar-nos. Não as ideias feitas dos outros. As nossas ideias feitas e os nossos preconceitos.

Kutuzov, o velho general tem uma forte ideia e que é a de se defender das ideias. "Os planos gerais escolásticos rompem-se antes de se formarem, pelos movimentos subterrâneos que Kutuzov escuta e toca, Kutuzov, o génio incrédulo e forte. Kutuzov vencerá, pelas estações, pelas paixões, pelo humor; ele não sabe como; ele está no turbilhão." (Alain, "Propos sur la Littérature" )

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