segunda-feira, 9 de novembro de 2015

PASCAL E O MARKETING

Blaise Pascal


"Por exemplo, para Pascal é claro que a filosofia - o cartesianismo, entendamo-lo - é a forma sofisticada e mascarada de um divertimento."

"L'anti-philosophie de Wittgenstein" (Alain Badiou)

Compreende-se que, para um jansenista do século XVII, tudo o que nos distrai da regra e da pureza da fé, seja um 'divertimento', algo de oblíquo que conspira contra a nossa 'salvação'.

Custa a crer quanto as coisas se inverteram, entretanto. É o que culpabiliza a diversão ou moraliza sobre a nossa 'insouciance' que hoje parece dominado por um espírito maligno que nos quer privar da única vida que temos.

Mas, se validarmos a ideia de Badiou, teremos de excluir da filosofia os próprios 'Pensamentos' e enfrentar a questão da célebre 'Aposta' ser na sua concepção atingida de 'frivolidade'.

A 'Aposta' (le pari), segundo o fragmento n.233 de 'Pensées', diz: "Tendes duas coisas a perder: o verdadeiro e o bem, e duas coisas a empenhar: a vossa razão e a vossa vontade, o vosso conhecimento e a vossa beatitude; e a vossa natureza tem duas coisas de que fugir: o erro e a miséria. A vossa razão não é mais ferida, escolhendo um ou o outro, uma vez que é preciso necessariamente escolher. Eis um ponto esvaziado. E então a vossa beatitude? Pesemos o ganho e a perda de crer na existência de Deus. Avaliemos estes dois casos: se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, não perdereis nada. Apostai portanto em que ele existe, sem hesitar."

Pascal revela-se aqui um 'marketeer' 'avant la lettre'. Para conquistar um crente apela ao 'farisaísmo pequeno-burguês', como diria o profeta do 'Manifesto'.

0 comentários: