Friedrich Nietzsche (1844/1900)
"O mal verdadeiro, o mal do mal, não é a violação dum interdito, a subversão da lei, a desobediência, mas sim a fraude na obra de totalização (...) se o mal do mal nasce da vida da totalização, ele só aparece numa patologia da esperança, como a perversão inerente à problemática da realização plena e da totalização."
"Le conflit des interprétations. Essais d' herméneutique", de Paul Ricoeur, citado por Fernanda Henriques ("Paul Ricoeur e a Simbólica do Mal")
Esta interpretação do mal parece nascer directamente da experiência, no século XX, do fenómeno totalitário e ter, portanto, uma causa exclusivamente humana.
A fraude de que fala Ricoeur, afastada a hipótese do "Malin Génie" de Descartes que nos iludiria nas nossas próprias evidências é, então, a mentira consubstancial a um sistema, do qual brota como um manancial poluído.
E escusado será dizer que tanto os que beneficiam do sistema são agentes do mal, como os que são enganados por aqueles. Nada escapa à influência deletéria deste mundo das trevas, a partir do momento em que dar uma espécie de cumprimento à utopia parece ser a única forma do poder se conservar, mesmo se para isso tem de adoptar a linguagem dúplice e sacrificar a verdade. Ou seja, esta deixa de ser independente do sistema e passa a confundir-se com a coerência.
Para se perceber o significado da experiência-limite do século XX, basta ter presente a definição de Nietzsche:
"O mal não é um problema abstracto que é preciso resolver, mas um trágico afrontamento de que é preciso sair vencedor."
E, no entanto, nesta apologia da vida, já se poderá ver o "ovo da serpente".
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