(Giotto) |
"(...) nada é mais limitado do que o prazer e o vício. Pode-se verdadeiramente, nesse sentido, mudando o sentido da expressão, dizer que se anda sempre à volta do mesmo círculo vicioso."
"Le Temps Retrouvé" (Marcel Proust)
O oposto do vício é a virtude, e cada um de nós é vicioso ou virtuoso conforme a sua forma e não de uma maneira abstracta. Daí que já se tenha observado que os nossos vícios são mais parecidos com as nossas virtudes do que com os vícios de outra pessoa, o mesmo valendo para as virtudes.
Sendo assim, não é tão difícil como isso imaginar um mesmo círculo por detrás das nossas qualidades e defeitos e que, como a um agulheiro ferroviário, bastasse um desvio da linha para mudar de direcção.
Porque uma coisa é certa, nenhuma virtude está completamente 'incomunicável' em relação ao seu gémeo vicioso, e nenhuma qualidade é para sempre. Já o vício é um plano inclinado em que se exerce como que uma força de gravidade.
Note-se, aliás, que Marcel, examinando a questão como na sua célebre imagem do aquário que nos permitiria observar o comportamento humano com a 'isenção' do ictiologista, traçou o destino do prazer colocando-o no mesmo círculo, embora na órbita inversa da do vício.
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