Anton Tchekov (1860/1904)
"Tchekov sabe muito bem - e com que paciente obstinação se aplicou a demonstrá-lo - que o fechado e imóvel círculo do hábito é a roda que mais velozmente rapta a alma à morte. O que se pode opor portanto ao hábito ( a que ele chama com frequência, justamente, "saciedade"), o que pode enfrentá-lo como remédio e salvação senão o seu contrário, a atenção?" E também: "Pedir a um homem que nunca se distraia, que subtraia sem descanso ao equívoco da imaginação, à preguiça do hábito, à hipnose do costume, a sua faculdade de atenção, é pedir-lhe que actue na sua máxima forma."
"Os Imperdoáveis" (Cristina Campo)
A propósito de Tchekov, um outro eco weiliano na autora italiana.
A atenção que ela aqui opõe ao hábito não é a concentração do espírito num objecto, para o conhecer ou modificar, relaxando-se em seguida, precisamente, no hábito.
É mais um estado de vigília, aquilo sem dúvida que, na Epístola aos Tessalonicenses, S. Paulo entendia por: orar, sem cessar. E Cristina Campo comenta que foi a estranheza dessas palavras que levou o autor anónimo (do século XIX) do "Peregrino russo" a iniciar a sua deambulação. Refere também que, hoje, se perdeu o sentido da oração que passou a ser apenas o duma "petição". É o mesmo espírito de "o tempo é dinheiro", a oração não podendo igualmente deixar de render.
O hábito, de qualquer modo, se calhar aquela felicidade de que só nos damos conta depois de a termos perdido e porque a perdemos, é o verdadeiro ladrão do tempo.
Quando nos damos conta, já vivemos.
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