Nicolai Gogol (1809/1852)
Ao reler Gogol, muitas vezes penso em como este humor corrosivo se aparenta ao do nosso Eça.
A ideia estapafúrdia de comprar almas mortas ( a riqueza dos senhores da terra, na Rússia, contava-se em almas de servos do sexo masculino), que lhe terá, aparentemente, sido inspirada pelo seu amigo Pushkin, é daqueles absurdos que denuncia a lógica profunda de certos sistemas racionais.
Afinal, se a alma é o que temos de mais precioso, e se é, justamente, a medida da riqueza dos proprietários, por que é que um pormenor como a morte há-de impedir Sobakevitch, para regatear o preço das suas almas, de exaltar as qualidades morais do defunto, como se ele ainda pudesse servir para alguma coisa?
É caso para dizer que no servo tudo se aproveita, e até a alma, depois de morto, pode ter o seu rendimento.
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