O retábulo de Isenheim de Mathias Grünewald
Depois de ver o filme de Mel Gibson, um escrúpulo me assaltou e que me foi suscitado pelo retábulo de Isenheim, em que Grünwald, ultrapassando todos os cânones da tradição e do "bom gosto", antecipando o que viria a ser o expressionismo, nos dá um Cristo leproso, pendurado ainda na cruz, mas em estado de putrefacção, sem dúvida com a intenção de nos mover à conversão e ao arrependimento.
Penso que não há qualquer comparação entre o nível de inspiração da pintura e a do filme. Mas, exterior à arte, há ou não em ambas as obras a mesma "militância"?
Hoje admiramos o retábulo de Colmar, e a anomalia da forma é perfeitamente compreendida como metáfora, os vários planos da realidade e do tempo podem co-existir sem que isso nos perturbe mais do que a co-existência no espaço, graças à perspectiva.
O filme de Mel é insuportável, e isso deve-se em grande parte ao poder do cinema. E talvez seja esse poder que, mais do que tudo, condene, esta ideia de nos fazer sofrer através das imagens.
Grünewald estimula a nossa contemplação. Não é o caso aqui, por excesso de violência.
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