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"(...) dizer que se tem uma alma grande, nobre, cobarde, temerária ou baixa, é ainda concebível, mas dizer simplesmente 'a minha alma', ninguém teria a coragem. É uma palavra estritamente reservada às pessoas de idade, e só se pode compreender se admitirmos que se torna cada vez mais sensível no decurso da vida uma qualquer coisa para a qual se tem grande necessidade de um nome, sem se chegar a encontrá-lo, até ao dia em que, enfim, se aceita a contragosto adoptar aquele que primeiro tínhamos desdenhado."
"L'Homme Sans Qualités" (Robert Musil)
Qual é essa coisa que os "jovens não podem pronunciar sem se rirem"? É como se estivessem ofuscados pela luz que emana da sua juventude. Na fase seguinte confunde-se essa coisa com o carácter, porque o carácter parece algo de concreto. Mas poderia bastar para definir um homem? Então tem-se a sensação que as palavras ficam muito aquém da realidade. Na fase final, adopta-se a palavra, à falta de melhor. Na velhice, a luz torna-se quase toda interior, mas não se sabe dizer o que significa. É o contrário da ofuscação, a qual não se deixa pensar. Mas o pensamento da velhice é lunar. A sua luz não aquece e não pode ressuscitar o colibri da ilusão.
Dir-se-ia que a tradição católica nos permite 'ter uma alma' e não uma soma de traços caracteriais. Mas é tão-só o domínio em que a sociedade civil de bom grado cede ao 'braço espiritual' a gestão dos mortos.
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