quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O RELÓGIO DE PULSO


(Henry Kissinger, Richard Nixon e Chou-en-Lai)

"Deng, em 1992, exaltou os 'quatro grandes artigos' que era essencial disponibilizar aos consumidores do campo: uma bicicleta, uma máquina de costura, um rádio e um relógio de pulso."

A citação é de Henry Kissinger, no seu livro sobre a China.

Da enumeração, talvez o relógio de pulso seja o artigo mais interessante. E talvez o mais 'caricato'. Essa prótese, para nós, é tão natural como uma cama para dormir. Já não podemos conceber a vida citadina sem essa  epígrafe do contrato social. O Estado e a própria economia dependem de todos nos guiarmos por um tempo comum. Em sinal de rebeldia, quem já não tentou, nas férias (se não precisar de um transporte ou de um serviço público), ou no fim-de-semana, viver sem o inexorável adereço?

A administração militar dos Romanos forjou as bases do nosso Estado centralizado enquanto o chamado Império do Meio se refinava num tempo estático dentro da sua muralha. A Guerra do Ópio foi uma das muitas humilhações que a actualidade e o imperialismo estrangeiro trouxeram ao povo chinês.

Depois dos tempos heróicos de Mao que resgatou esse passado ofensivo, a 'medicina' de Deng encontrava a fórmula tradicional de 'dar a volta por cima': "Observe cuidadosamente; fortaleça a sua posição; lide calmamente com os assuntos; oculte as nossas capacidades e aguarde o nosso tempo; seja bom a manter um perfil discreto; e nunca reivindique a liderança. (Deng: 'Instrução de 24 caracteres')

Depois foi o que se viu. Os 'quatro grande artigos' fazem ecoar a célebre palavra de ordem leninista que resumia o programa comunista aos 'sovietes mais a electrificação' do país. Mas a China, país ainda mais rural do que a Rússia, precisava de uma centralização básica que pusesse o Estado moderno no seu soclo.

Os 'quatro artigos' têm tudo o que o campo do ponto de vista comunista precisa para se integrar no sistema: comunicações, indústria familiar, doutrinação.

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