quarta-feira, 18 de novembro de 2015

OFTALMOLOGIA

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"Ora aquilo  que  dissemos  mostra  que  a  faculdade  de  aprender  e  o  órgão  dessa faculdade  existem  na  alma  de  cada  um.  Mas  existem  lá  como  um  olho  que  não poderia,  a  não  ser  acompanhado  por  todo  o  corpo,  voltar-se  para  a  luz  e  deixar  as trevas."
"A República"  (Platão)

Isto, apesar da metáfora, talvez  'ingénua' aos nossos olhos, parece ainda escapar-nos.  O idealismo platónico concebe a alma como prisioneira do corpo, logo, compreende-se que a verdadeira sabedoria esteja dependente de uma posição do corpo, este deve virar-se para a luz para que o 'olho interior' (chamemos-lhe assim) possa ver. Mas aqui trata-se, explicitamente, de uma analogia. O que quer dizer Platão?

Notemos que a célebre fórmula da 'mens sana in corpore sano' (de origem latina) que define as relações ideais entre o corpo e o espírito, deixa ainda a alma no seu cativeiro. E a visão das silhuetas, na Caverna, depende também do corpo estar voltado para elas...

A alegoria 'oftalmológica' privilegia a razão estratégica e a perspectiva de um território. O espírito científico terá tido outros começos, mas aqui se apura, talvez, a diferença 'ocidental'.

Os limites da especialização também são anunciados. O olho tem de voltar-se para a luz,  'acompanhado por todo o corpo'.

Sabemos como a razão separada, o estrabismo cientista se podem aproximar da loucura. Os monstros que o 'sono da razão' engendra, equiparam-se à prole não menos monstruosa da razão abstracta.

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