"Ora aquilo que dissemos mostra que a faculdade de aprender e o órgão dessa faculdade existem na alma de cada um. Mas existem lá como um olho que não poderia, a não ser acompanhado por todo o corpo, voltar-se para a luz e deixar as trevas."
"A República" (Platão)
Isto, apesar da metáfora, talvez 'ingénua' aos nossos olhos, parece ainda escapar-nos. O idealismo platónico concebe a alma como prisioneira do corpo, logo, compreende-se que a verdadeira sabedoria esteja dependente de uma posição do corpo, este deve virar-se para a luz para que o 'olho interior' (chamemos-lhe assim) possa ver. Mas aqui trata-se, explicitamente, de uma analogia. O que quer dizer Platão?
Notemos que a célebre fórmula da 'mens sana in corpore sano' (de origem latina) que define as relações ideais entre o corpo e o espírito, deixa ainda a alma no seu cativeiro. E a visão das silhuetas, na Caverna, depende também do corpo estar voltado para elas...
A alegoria 'oftalmológica' privilegia a razão estratégica e a perspectiva de um território. O espírito científico terá tido outros começos, mas aqui se apura, talvez, a diferença 'ocidental'.
Os limites da especialização também são anunciados. O olho tem de voltar-se para a luz, 'acompanhado por todo o corpo'.
Sabemos como a razão separada, o estrabismo cientista se podem aproximar da loucura. Os monstros que o 'sono da razão' engendra, equiparam-se à prole não menos monstruosa da razão abstracta.
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