domingo, 21 de setembro de 2014

PROMETEU


"Prometheus" (Ridley Scott)

"Quando o Evangelho já não é prègado aos pobres, quando o sal se tornou tolice e todos os festejos fundamentais foram furtivamente excluídos, então o povo, para cuja razão angustiada a verdade só pode estar na representação, já não sabe como encarar a ansiedade do seu íntimo."

(Hegel

Encontro esta citação em Habermas. Estamos num ponto de viragem de que saíram as grandes ideologias do século XX. A figura do povo surge como a do grande necessitado, a entidade passiva que "já não sabe" lidar com o ocultamento de Deus (ainda não tinha aparecido o testamentário que enlouqueceu em Turim), com a falta de respostas dos seus 'representantes' na terra.

A sua razão 'angustiada' não lhe permite ver a imensidão do sistema que o filósofo prepara, com os recursos próprios do pensamento mais abstracto. Ao povo, condenado a identificar a verdade com a representação, como os cavernícolas de Platão, é preciso dar uma nova mitologia. Uma mitologia que deixe para trás a das 'imagens' de toda uma hagiografia. Ninguém melhor que um luterano que ultrapassou o estádio infantil da idolatria popular e a sua constelação de nichos para propor esse nobre desígnio.

A separação da realidade (uma espécie de auto-defesa, um jogo pré-freudiano com o traumatismo) mudou de cenário. Entra em cena, o Sistema. Em relação à Providência, foi um gesto prometeico.

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