sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O PONTO DE VISTA UTÓPICO

Job (Bonnat)

 

"O que é o homem, para lhe dares importância,
e fixares nele a tua atenção,
para que o observes todas as manhãs
e o proves a cada instante?
Quando afastarás de mim o teu olhar,
e deixarás que eu engula a minha saliva?"

(Job 7,1719)


Nesta passagem do 'Livro de Job', a distância extrema, a do escravo na Antiguidade, em relação ao seu senhor, e o tu-cá, tu-lá que só encontramos quando todos os limites sociais foram ultrapassados. A ambiguidade do que poderia parecer uma relação entre um pai 'omnipotente' e, apesar de tudo, a familariedade de um filho.

Mas o questionamento de Job é, ao mesmo tempo muito moderno. Como se tivesse implícito o que sabemos hoje da Física e da Cosmologia. Ao ponto de um céptico poder usar com humor a crítica do patriarca a este 'interesse' incompreensível de um Deus 'aggiornato' e descontextualizado da Bíblia pelo mais ínfimo do humano.

É verdade que aquilo que ficou conhecido por humanismo (e só ele podia validar o desnível entre Deus e o escravo; no Cristianismo, através da Cruz) parece hoje ter cedido, para maior glória da ciência, demasiado humana, por outro lado, às correntes ditas não-humanistas que procuram o ponto de vista utópico...


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