domingo, 14 de setembro de 2014

A JUSTIFICAÇÃO DAS PÉROLAS

Nietzsche por Edward Munch

"Restará a grande questão de saber se podemos dispensar a doença, mesmo para desenvolver a nossa virtude, se, nomeadamente, a nossa sede de conhecimento, e de nos conhecermos a nós próprios, não tem necessidade da nossa alma doente tanto quanto da nossa alma saudável, em resumo, se querer exclusivamente a nossa saúde não será um preconceito, uma cobardia e, talvez, um resto de barbárie mais subtil e do espírito mais retrógrado."

"A Gaia Ciência" (Friederich Nietzsche)

Esta ideia foi brilhantemente utilizada no romance de Yalom ("Quando Nietzsche chorou"), em que se ficciona o plausível (mas não verificado) encontro entre um percursor da psicanálise (Breuer) e o profeta de Zaratustra.

Nietzsche receia que o stress seja indispensável à sua auto-reflexão e ao melhor do seu pensamento.

Afinal não foi mais ou menos com essas palavras que o professor Dieulafoy consolou a avó do Narrador, no grande romance de Proust? Era a extrema sensibilidade resultante da sua falta de saúde que lhe permitia extrair tanto prazer da leitura, nomeadamente, da sua querida Madame Sévigné.

E a ostra aí está também para o demonstrar.

A mais bela das pérolas não deixa de ser uma espécie de tumor.

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