"Colateral" (2004-Michael Mann)
Em L.A., os coiotes descem do deserto e devolvem de olhos infernais as luzes dos faróis e, como dizia Bret Easton Ellis, ninguém quer saber de coisa nenhuma, muito menos dum homem morto no metropolitano a viajar há 12 horas.
A psicologia de Max, o taxista (Jamie Foxx) que se vê forçado a acompanhar na sua ronda nocturna um assassino contratado (Tom Cruise) é um notável exercício de ambivalência.
À medida que a lista dos crimes se acrescenta, comentados pela peroração niilista de Vincent, em que se mistura Darwin e o I Ching, Max, o ingénuo perito em escapadas de 5 minutos para as Maldivas, não resiste à identificação com o "super-homem" do banco traseiro e, como na literatura romântica, só é salvo pelo amor.
Nunca a multidão transada pelo ritmo pré-musical das vísceras pareceu tanto uma gelatina de mil braços, vigiada pela única consciência de serviço: a dos seguranças. Com o poder, na sua forma mafiosa ou policial, circulando por entre a massa ululante como pelo alcatrão da urbe.
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