" Em 1729, Jean Meslier, um exemplar padre de paróquia, morreu cansado da vida, deixando as suas magras posses aos seus paroquianos. Entre os seus papéis, eles descobriram o manuscrito das suas Memórias, no qual declarava que o Cristianismo era uma fraude."
"The case for God" (Karen Armstrong)
Este caso, várias vezes citado, não é tanto o modelo da hipocrisia, como da amoralidade funcionária. Meslier fez parte da Igreja como poderia ter trabalhado para o Ministério do Interior. Para ter um emprego. Não sabemos se começou a sua actividade já sem acreditar, ou se perdeu a fé pelo caminho. Em qualquer dos casos, não era um anti-cristão e só as suas memórias revelaram a toda a gente a contradição em que, aparentemente, vivia. Mas terá sido assim?
Quando morreu este actor que fez de padre tão exemplarmente, Rousseau tinha só 17 anos. Provavelmente nunca se encontraram, nem, para dizer a verdade, seria preciso qualquer ensinamento do homem mais velho para pôr em movimento a ideia revolucionária que germinava na mente do jovem genebrense.
Meslier não destoa, quanto à sua moralidade ou à falta dela, do seu tempo, nem dos costumes eclesiásticos que destinavam aos filhos segundos da nobreza uma carreira 'éclatante'. Se se chegava a cardeal como alternativa a um 'emprego' na corte e ao privilégio de ver o rei em trajes menores (menores, relativamente, é claro) por que diabo se devia exigir ao 'petit prêtre' que tivesse fé?
Tal foi o 'espírito da época' que gerou o inclassificável Marquês tornado, na prisão, a sua doença venérea e o seu estilo.
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