domingo, 28 de setembro de 2014

A ENZIMA JUDAICA


"O judeu errante" (Marc Chagall)


"Nos países protestantes, a crítica da moral leva necessariamente sociedades e classes inteiras a desmascararem-se a si próprias. É por isso que, nesses países, particularmente na Alemanha do Norte e na América, o "Aufklärung" moral não é possível sem uma componente sócio-masoquista (Ela nutre-se duma segunda pátria que são os judeus emancipados [Marx, Heine, Freud, Adorno entre outros], para quem, a despeito duma assimilação das mais estreitas à sociedade burguesa, é inerente uma certa visão marginal e predisposta à crítica, como Hanna Arendt o mostrou com evidência)."

"Critique de la Raison Cynique" (Peter Sloterdijk)

É claro que o impulso da crítica não nasce numa consciência feliz. E basta atentar à história das religiões para perceber que o homem sempre se projectou numa outra vida, que seria a verdadeira vida, face a este merecido "vale de lágrimas" (por causa do pecado original), ou a um mundo sem Deus, mas repassado de injustiça, cuja única esperança é a utopia.

A marginalidade dos judeus integrados foi enzimática na nossa cultura, como se vê na enorme influência, em todos os campos do saber, de indivíduos separados e relativamente autónomos em relação à tradição de cada país.

Pela mesma razão, o Estado judaico significa o fim desse espírito crítico (o que se verá melhor se alguma vez esse Estado deixar de sentir a sua existência ameaçada).

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