"Zelig" (1983, Woody Allen) |
Por que é que "Zelig" é, talvez, o melhor filme
de Woody Allen? Esta história do 'homem-camaleão' cuja personalidade e aspecto
físico se adaptam às pessoas com quem se encontra, é contada como um documentário para a televisão, e o célebre humor judaico-nova-iorquino impregna, sem
dúvida, as situações, mas não 'invade' os diálogos, de resto, escassos, já que
a personagem, tirando a grande conversa com a doutora Fletcher (Mia Farrow), é
sempre surpreendida numa actividade camaleónica 'gestual'.
Além disso, a ideia é magnífica. As oscilações no
comportamento deste ser 'invertebrado' têm uma perfeita analogia nas variações
da chamada 'opinião pública', com o espectacular exemplo da passagem de
Zelig da fama ao opróbrio (por causa dos inúmeros casamentos oportunísticos de que ele
não se pode lembrar) e do regresso ao favor do público graças ao impagável
reencontro amoroso no congresso nazi de Nuremberga.
Zelig converte-se, graças a esta não-ideossincrasia, no
símbolo do 'homo democraticus', anónimo e flutuante, ou, se quisermos, na
mónada do 'grande animal' platónico.
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