"O soberano deste país goza do poder político mais
absoluto, e ao mesmo tempo dirige os seus súbditos no assunto mais importante
das suas vidas, o da salvação."
"Promenades dans Rome" (Stendhal)
O livro de Henri Beyle foi publicado em 1829, quando se
podiam dizer aquelas palavras sobre a Itália e sobre o papa. Se os reis governavam por direito divino, o
sumo pontífice era o monarca mais legitimado, mas não era perfeito porque com ele
acabava a dinastia.
Entretanto, a nossa visão do político mudou quase tanto
como os 'estados pontifícios' de antes da unificação do país. Com efeito, não
poderemos considerar o poder dos papas como verdadeiramente político. O
'absolutismo' de que fala o romancista pode ser herdeiro do cesarismo, que até
reuniu na pessoa do imperador as funções políticas e religiosas, mas aqui tinha
um valor simbólico, até certo ponto, independente da política.
Seria interessante comparar as funções dum monarca como
Luís XIV de França e as dum qualquer dos papas daqueles tempos em termos de responsabilidade
pessoal. Mesmo como representante de Deus na terra - e Luís era devoto - o
sentimento de que não competia a mais ninguém dirigir os destinos dum país em
'perigo natural' teria de ser diferente de estar nominalmente à frente dum
estado 'sub specie aeternitatis'.
Esse estado é todo o contrário da política que é o
resultado da acção livre dos cidadãos, daqueles homens que fazem da sua cidade
o ambiente mais propício ao desenvolvimento das suas capacidades. Isso,
idealmente, porque, na realidade, a mistura da violência e dos mecanismos
sociais rebaixa sempre a política.
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