Santo Anselmo de Cantuária |
"Vamos lá, homenzinho, desvia-te por um tempo das
tuas ocupações diárias, escapa por um momento ao tumulto dos
pensamentos...Entra na câmara interior da tua alma, deixa de fora tudo menos
Deus e tudo aquilo que te pode ajudar a procurá-lo, e quando fechares a porta,
procura-o."
(Santo Anselmo: "Proslogion", citado por Karen
Armstrong)
O tom condescendente do santo tanto pode querer dizer que
aquilo que está a pedir está acima das possibilidades da alma que, por
ignorância, nem sequer encontrou a 'câmara interior', como que tal seria coisa
fácil e óbvia, não fosse a resistência do mal, a 'má-vontade'.
A redução ao elemento mais puro (uma ideia da química), ou da
matéria à ideia significa uma conversão de toda a experiência a um único
princípio. O sentido assim recebido pelo espírito 'em tumulto' permite a
distância do sujeito.
Por 'linhas tortas' como estas se chegou ao 'cogito' de
Descartes, à análise científica ou à
sublimação freudiana.
A 'câmara interior' não está hoje, naturalmente, no
centro. Porque toda a abstracção a imita e o milagre chama-se atenção. O que
quer dizer que ao longo da história não fomos 'atentos' da mesma maneira.
Santo Anselmo talvez mereça alguma condescendência.
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