sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VIRA O DISCO...



O conde de Leinsdorff, representante do poder máximo na auto-designada 'Acção Paralela', concebe a ideia dum inquérito "tendo em vista estabelecer os 'desiderata' dos diferentes círculos da população em relação à reforma da administração" (Musil)

Há cada vez menos, no poder, ingénuos desta natureza, mas devemos lembrar que Leinsdorff era um nobre e, nele,  qualquer profissão de fé democrática só podia significar o idealismo mais inconsequente.

Qual poderia ser o resultado duma sondagem pelos 'diferentes círculos' sobre, por exemplo, os 'desiderata' em relação à presente situação de Portugal? Não seriam de esperar nem uma 'reviravolta', nem uma confirmação das políticas que têm vigorado até agora. Compreende-se, naturalmente, que o governo interpretaria a 'sentença popular' conforme lhe conviesse, apesar de, com isso, iludir apenas os néscios.

As semelhanças do inquérito de Leinsdorff com as eleições do 'povo soberano' são muitas. Os desejos não podem ser conciliados e, de resto, não resolvem nenhum problema. E os problemas que merecem a atenção das 'forças vivas' do regime são os da sua própria perpetuação, como diz o Rui Tavares no seu artigo "A refundação democrática":

"Há um princípio chamado de Clay Shirky, do nome de um autor de livros sobre cultura e tecnologia, segundo o qual 'as instituições procuram preservar o problema para o qual deveriam ser a solução'. A razão é muito simples: caso resolvesse o problema para o qual foi criada, a instituição X perderia a sua razão de existir; em consequência, no conflito entre resolver o problema e assegurar a sua própria manutenção, a instituição tende - a menos que seja forçada por outra via - para a segunda opção.('Público' de 1/8/2012)

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