Wittgenstein com o manuscrito |
" (...) o que é lógico não pode ser apenas possível.
A Lógica trata de cada possibilidade e todas as possibilidades são os seus
factos."
"Tractatus" (Wittgenstein)
A melhor maneira de compreender um autor não é começar
por criticá-lo. No final, o eventual desacordo terá alguma coisa que ver com as
suas ideias.
Sabe-se que Ludwig Wittgenstein chocou o mundo académico
com as suas teses contra a filosofia e mesmo um Russell foi incapaz de o
refutar. Como é natural, o iconoclasta tornou-se um clássico da filosofia. No
princípio, Sócrates não começou por negar o próprio conhecimento?
Mas que mundo é então esse em que os factos não se
distinguem das possibilidades? Uma resposta seria a de que esse é o mundo platónico
das ideias, em que a Lógica é um pré-existente e em que, de facto, não faria
sentido falar em 'actualidade' ou em factos, porque esse mundo é 'real' e
actual ao mesmo tempo.
O filósofo diz também que o mundo é a totalidade dos
factos e não das coisas. Não são estas as sombras da Caverna, sem realidade? E
aconselha-nos a sermos claros ou a ficarmos calados para sempre:
"o que é de todo exprimível, é exprimível
claramente; e aquilo de que não se pode falar, guarda-se em
silêncio."(idem)
Pode-se concluir que o nosso mundo devia ser muito mais
lacónico do que aquilo que é. Na verdade, haveria muito pouco que exprimir se
quiséssemos estar à altura desta Lógica. Os mais lacónicos seriam com certeza os
que, tendo visto o sol de Platão, voltassem ao mundo dos simulacros, porque não
haveria tradução possível em linguagem clara.
0 comentários:
Enviar um comentário