Stendhal (Henri-Marie Beyle) |
"As belezas da arte redobram o efeito das belezas da
natureza e previnem a saciedade, que é o grande defeito do prazer de ver
paisagens."
(Stendhal)
Mas foi o próprio Stendhal que relatou uma sua
experiência, depois de visitar a igreja de Santa Croce, em Florença, que esteve
na origem da chamada 'síndrome de Stendhal', provocada pela exposição
concentrada (num único lugar) a obras de arte de grande beleza: "Eu tinha
chegado a esse ponto de emoção no qual se encontram as sensações celestes dadas
pelas Belas Artes e os sentimentos apaixonados. Ao sair de Santa Croce, tive um batimento
do coração, a vida estava esgotada em mim, andava com medo de cair." ("Nápoles
e Florença: Uma viagem de Milão a Reggio")
O sentimento de que a natureza é uma experiência
'simples' que depressa fatiga a nossa atenção se não for alimentada pelo
pensamento que a toma por simples pretexto (mesmo no misticismo, bem vistas as
coisas) parece-me justo. Enquanto que uma obra de arte, para um conhecedor como
Henri Beyle, remete para as outras obras
do pintor, para a história da pintura e o mundo da arte, etc.
A 'saciedade' é por isso uma consequência da natureza nos
ser, em última análise, exterior. Sem a pintura do mar ( e nos nossos dias a
sua versão fotográfica e a do cinema), não teríamos, provavelmente, nenhuma
percepção sobre o fenómeno. Nesse sentido, Stendhal entra em contradição porque
o puro 'exterior' nos é inacessível.
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