quarta-feira, 8 de agosto de 2012

SACIEDADE

Stendhal (Henri-Marie Beyle)

"As belezas da arte redobram o efeito das belezas da natureza e previnem a saciedade, que é o grande defeito do prazer de ver paisagens."

(Stendhal)



Mas foi o próprio Stendhal que relatou uma sua experiência, depois de visitar a igreja de Santa Croce, em Florença, que esteve na origem da chamada 'síndrome de Stendhal', provocada pela exposição concentrada (num único lugar) a obras de arte de grande beleza: "Eu tinha chegado a esse ponto de emoção no qual se encontram as sensações celestes dadas pelas Belas Artes e os sentimentos apaixonados. Ao sair de Santa Croce, tive um batimento do coração, a vida estava esgotada em mim, andava com medo de cair." ("Nápoles e Florença: Uma viagem de Milão a Reggio")

O sentimento de que a natureza é uma experiência 'simples' que depressa fatiga a nossa atenção se não for alimentada pelo pensamento que a toma por simples pretexto (mesmo no misticismo, bem vistas as coisas) parece-me justo. Enquanto que uma obra de arte, para um conhecedor como Henri Beyle, remete para as outras obras  do pintor, para a história da pintura e o mundo da arte, etc.

A 'saciedade' é por isso uma consequência da natureza nos ser, em última análise, exterior. Sem a pintura do mar ( e nos nossos dias a sua versão fotográfica e a do cinema), não teríamos, provavelmente, nenhuma percepção sobre o fenómeno. Nesse sentido, Stendhal entra em contradição porque o puro 'exterior' nos é inacessível.

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