quarta-feira, 29 de agosto de 2012

NEURÓNIOS



"Já não há terra secreta, os catálogos de viagem
 cobrem,  com mapas pormenorizados,
 90% dos segredos. Os heróis vieram directamente
 das lendas para os parlamentos;"

(Gonçalo Tavares:"Uma viagem à Índia")


Tudo o que vive está sob escrutínio, à medida que as comunicações se tornam uma gigantesca prótese do cérebro.

E é, evidentemente, impossível voltar a um estado menos...complexo.

Estamo-nos, pois,  a despedir, neste nosso século XXI, duma espécie de infância do mundo. Tudo se cobre da nossa nostalgia ou nos parece mais pequeno, quando voltámos aos mesmos lugares. A experiência passada tem uma geografia que não confere com os mapas.

Uma das consequências do GPS é a de não precisarmos de mapas nem de usarmos a boca "para chegar a Roma". De certo modo, essa ubiquidade da informação parece que nos infantiliza. É como termos um "anjo da guarda".

Na verdade, isso é fazer parte dos novos neurónios. E não sabemos que espécie de indivíduo vai sair daí.

Gonçalo Tavares refere-se a um mundo perdido de lendas e heróis. E aquele advérbio exprime bem a velocidade com que o perdemos.

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