"Modern Times" (Charlie Chaplin) |
A experiência de cada um tem ainda uma incontestável
superioridade moral e, nalguns casos cognitiva, sobre o que se aprendeu nos
livros ou o que se ouviu de terceiros. Daí que, por exemplo, alguns defendam
que só quem viveu o drama quotidiano dos hospitais e sofreu 'na pele' a
ineficiência casual ou crónica dos seus serviços estaria em condições de
contribuir para uma reforma verdadeira.
Mas é claro que não é ao candidato a náufrago, ou ao
passageiro que já viu o seu navio ir ao fundo, que se pode confiar o leme ou o
desenho duma embarcação mais segura.
O que a experiência pessoal dum drama como esses pode trazer é a
motivação que quase sempre faz falta aos
'técnicos'.
A curta (mas sofrida) experiência do trabalho numa cadeia
de montagem, nos anos trinta, de Simone Weil permitiu-lhe aperceber-se que os
engenheiros desenhavam as máquinas sem qualquer consideração pelos homens que
tinham de se servir delas. Ainda hoje vemos em uso, por exemplo, nas obras de rua o martelo
pneumático que revolve as entranhas de qualquer criatura, como se não tivessem
adiantado nada os avisos. Nenhum engenheiro pensa nisso, se calhar, por não ter
uma vítima na família.
As reformas da saúde não podem resultar da mais que
justificada indignação, porque é preciso aliar o 'desenho' das soluções à
sensibilidade e a algum idealismo (humanitário) dos motivos.
A máquina para poupar tempo na refeição de Charlot, em
"Os tempos modernos", só não era monstruosa para o patrão que não
tinha de se servir dela, nem para o engenheiro porque precisava de a vender.
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