sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ENGENHEIROS

"Modern Times" (Charlie Chaplin)

A experiência de cada um tem ainda uma incontestável superioridade moral e, nalguns casos cognitiva, sobre o que se aprendeu nos livros ou o que se ouviu de terceiros. Daí que, por exemplo, alguns defendam que só quem viveu o drama quotidiano dos hospitais e sofreu 'na pele' a ineficiência casual ou crónica dos seus serviços estaria em condições de contribuir para uma reforma verdadeira.

Mas é claro que não é ao candidato a náufrago, ou ao passageiro que já viu o seu navio ir ao fundo, que se pode confiar o leme ou o desenho duma embarcação mais segura. 

O que a experiência pessoal  dum drama como esses pode trazer é a motivação que quase  sempre faz falta aos 'técnicos'.

A curta (mas sofrida) experiência do trabalho numa cadeia de montagem, nos anos trinta, de Simone Weil permitiu-lhe aperceber-se que os engenheiros desenhavam as máquinas sem qualquer consideração pelos homens que tinham de se servir delas. Ainda hoje vemos  em uso, por exemplo,  nas obras de rua o martelo pneumático que revolve as entranhas de qualquer criatura, como se não tivessem adiantado nada os avisos. Nenhum engenheiro pensa nisso, se calhar, por não ter uma vítima na família.

As reformas da saúde não podem resultar da mais que justificada indignação, porque é preciso aliar o 'desenho' das soluções à sensibilidade e a algum idealismo (humanitário) dos motivos.

A máquina para poupar tempo na refeição de Charlot, em "Os tempos modernos", só não era monstruosa para o patrão que não tinha de se servir dela, nem para o engenheiro porque  precisava de a vender.

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