segunda-feira, 6 de agosto de 2012

E DEPOIS DOS PARTIDOS?

Simone Weil (1909/1943)


A posição sustentada por Rui Tavares na sua série de artigos do 'Público' sobre a 'refundação democrática', chamando a atenção para o 'parasitismo' dos partidos e a sua inultrapassável incapacidade de, enquanto organizações, colocarem qualquer outro fim à frente da sua eternização no 'sistema', lembra-me uma das mais polémicas teses de Simone Weil ("Écrits de Londres").

Sem dúvida, foram ideias como as que exprimiu em "Note sur la suppression générale des partis politiques" que levaram o General De Gaulle, então chefe da Resistência,  a considerá-la 'louca'.

A filósofa tinha em vista, sobretudo, a falta de condições de liberdade para o pensamento livre dentro de qualquer organização partidária, em que o 'colectivo' se erige em sujeito, levando os seus membros a invocarem, sempre, um 'nós', e Simone dizia que esse 'nós' nem uma conta de adição consegue pensar.

Na França livre, depois da guerra, aos seus olhos, seria desastroso e uma oportunidade talvez perdida para sempre, voltar ao sistema político que tinha conduzido à hecatombe, pelos seus actos e omissões, mas, acima de tudo, porque, na sua opinião, esse sistema era responsável por ter levado a França a perder a sua a alma e a ter deixado de pensar.

Na sua tese, parecia não ter dúvidas sobre a possibilidade duma democracia sem partidos e organizada apenas por associações efémeras da cidadania. Essa é, aliás, a primeira dúvida que o nosso articulista nos suscita.  É pensável uma democracia sem partidos?

O modelo pode dar a ideia de estar esgotado, mas a verdade é que ainda não se inventou melhor e os projectos de Simone Weil são demasiado vagos.

Por outro lado, a crítica do sistema partidário e da sua impossibilidade de reforma justifica-se cada vez mais. O princípio de Clay Shirky referido por Rui Tavares parece confirmado pela prática de todos os partidos, sem excepção. Teríamos, pois, de suportar um sistema que se alimenta dele mesmo e que gera infalivelmente a corrupção e a prepotência sem a sombra duma esperança?

É preciso dizer que hoje a primeira causa dos partidos se terem tornado 'disfuncionais' é a cultura dos tempos e o espírito refractário a qualquer tipo de idealismo. Tal como as coisas estão, os partidos só podem revelar o pior de si mesmos.
 

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