Simone Weil (1909/1943) |
A posição sustentada por Rui Tavares na sua série de
artigos do 'Público' sobre a 'refundação democrática', chamando a atenção para
o 'parasitismo' dos partidos e a sua inultrapassável incapacidade de, enquanto
organizações, colocarem qualquer outro fim à frente da sua eternização no
'sistema', lembra-me uma das mais polémicas teses de Simone Weil ("Écrits
de Londres").
Sem dúvida, foram ideias como as que exprimiu em "Note sur la suppression générale des partis politiques" que levaram o General
De Gaulle, então chefe da Resistência, a
considerá-la 'louca'.
A filósofa tinha em vista, sobretudo, a falta de
condições de liberdade para o pensamento livre dentro de qualquer organização
partidária, em que o 'colectivo' se erige em sujeito, levando os seus membros a
invocarem, sempre, um 'nós', e Simone dizia que esse 'nós' nem uma conta de
adição consegue pensar.
Na França livre, depois da guerra, aos seus olhos, seria
desastroso e uma oportunidade talvez perdida para sempre, voltar ao
sistema político que tinha conduzido à hecatombe, pelos seus actos e omissões,
mas, acima de tudo, porque, na sua opinião, esse sistema era responsável por ter levado a França a perder a sua a alma e a ter deixado de
pensar.
Na sua tese, parecia não ter dúvidas sobre a
possibilidade duma democracia sem partidos e organizada apenas por associações
efémeras da cidadania. Essa é, aliás, a primeira dúvida que o nosso articulista
nos suscita. É pensável uma democracia
sem partidos?
O modelo pode dar a ideia de estar esgotado, mas a
verdade é que ainda não se inventou melhor e os projectos de Simone Weil são
demasiado vagos.
Por outro lado, a crítica do sistema partidário e da sua
impossibilidade de reforma justifica-se cada vez mais. O princípio de Clay
Shirky referido por Rui Tavares parece confirmado pela prática de todos os
partidos, sem excepção. Teríamos, pois, de suportar um sistema que se alimenta
dele mesmo e que gera infalivelmente a corrupção e a prepotência sem a sombra
duma esperança?
É preciso dizer que hoje a primeira causa dos partidos se
terem tornado 'disfuncionais' é a cultura dos tempos e o espírito refractário a
qualquer tipo de idealismo. Tal como as coisas estão, os partidos só podem
revelar o pior de si mesmos.
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