(Edmond et Jules de Goncourt) |
"A Antiguidade foi criada para proporcionar aos professores o seu pão com manteiga."
(os Goncourt)
Desossada, esta 'blague', é um truísmo. Não poderíamos viver sem uma ideia do passado, sobretudo do passado lonjínquo, nem que fosse uma história da carochinha. Historicamente, essa ideia apresenta-se sob a forma de um mito. Nesse sentido, os 'professores' são uma espécie de sacerdotes, passando a chama sagrada de uma geração para outra.
As ciências humanas trouxeram a essa ideia do passado o selo de garantia sem o qual, na modernidade, não se pode pretender à 'objectividade', que é, no final de contas, uma espécie de acordo inter-subjectivo para que se evite a anarquia do 'tudo é relativo'.
A teoria do 'tudo é relativo' (que vale o mesmo do 'tudo é subjectivo') recebeu uma funesta confirmação da má interpretação da teoria de Einstein e tem uma vasta prole que vai do 'politicamente correcto' à fórmula de Deng Xiao Ping ('o que interessa não é a côr do gato, mas se caça ratos') que libertou a China de um novo mandarinato.
A Antiguidade que reconstruímos através dos últimos séculos está alicerçada, evidentemente, nas descobertas arqueológicas e nos estudos historiográficos, e em todas as novas técnicas que podem datar um acontecimento e filiar a sua pertença a um determinado contexto. Essa base está, porém, limitada ao estudo de um cadáver, e nem a ciência mais prodigiosa pode ressuscitar os mortos.
Poderíamos dizer, assim, que a História é tanto inesgotável quanto inverificável. Mas que é fundamental, de uma forma ou de outra, para se poder lidar com o presente, não restam dúvidas.
Estaline, ao 'reescrever' a história, através da manipulação das fotografias da época, deu o golpe de misericórdia na nossa credulidade. Já sabíamos que são os vencedores que escrevem a história. Faltava-nos saber até que ponto a 'vontade de poder' pode colocar-se no lugar de Deus e da Providência. Donde, até os mitos são suspeitos.
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