"Mas no navio que vinha imediatamente atrás encontrava-se o poeta da "Eneida" que tinha o sinal da morte desenhado na fronte."
"A morte de Virgílio" (Hermann Broch)
Este livro que narra as últimas horas de Virgílio, começando pela sua chegada a Brindisi, preso ao leito, consumido pelas febres, pensando no destino que o fizera acompanhar Augusto e deixar Atenas, renunciando para sempre ao projecto de acabar a obra da sua vida, tem um movimento tão majestosamente lento, os seus períodos, sem a sinuosidade proustiana, são tão cheios duma repetição musical, que é uma verdadeira prova para o leitor apressado que gosta de espremer com a ponta dos dedos a polpa dos textos.
Não é preciso dizer que estamos num território de eleição da literatura, onde nenhuma imagem, ou mesmo a música nos podem sugerir o equivalente.
Talvez o sentido do tacto, a cenestesia dum corpo com saudades da vida, se se pudessem traduzir em pensamentos, com a sua lenta e hesitante progressão, a impossibilidade que lhes é peculiar de qualquer perspectiva nos dêem a ideia do texto de Broch.
Realmente, só podem apreciá-lo as pessoas ricas de tempo.
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