Simon Leys conta a cena em que um sermão pôs toda a gente a chorar, excepto uma das pessoas presentes. Quando lhe perguntaram o porquê de tal indiferença, respondeu: "Não sou desta paróquia".
Esta anedota faz-nos pensar que existe uma ideia de fidelidade e um sentido de dever que pode preservar o indivíduo, digamos, de se 'embriagar' com as emoções de um colectivo. É raro que a natureza de cada um não seja contagiada pelo exemplo dos outros. E para não correrem esse perigo, todos os 'aficionados' de um clube ou os entusiastas de uma facção politica praticam, instintivamente, uma higiene de privação de contactos pessoais e de convívio em relação aos seus rivais.
Esse isolamento e esta segregação, de uns e outros, é o terreno ideal para as abstracções preconceituosas e para a mútua caricatura.
Em casos extremos, de poder desigual, esse não-querer conhecer adopta a famosa 'langue de bois' para expurgar do outro qualquer vestígio de humanidade.
O jogo de rivalidades é inevitável porque é desse 'estofo' que o homem é feito. E a tentativa da sua supressão tem as consequências que podemos imaginar, se aquela anedota em vez de se referir a uma comunidade 'comovida', o fizesse em relação a uma comunidade de fanáticos.
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