"Por causa da sua multifacetada inconsistência, Proteu é, entre todos os deuses, aquele que tem menos existência. Antes de escolher, um indivíduo é mais rico; depois de escolher, é mais forte."
(Rascunho do prefácio de Gide para a sua peça 'Saul', citado por Simon Leys)
A riqueza, neste sentido, seria uma potencialidade, um estado virtual. Do género daquele crédito que todo o desconhecido goza antes de falar, ou o escritor antes de 'macular' a página em branco. A decisão por um rosto e um caminho não se faz, porém, numa ilha deserta. A força de que fala Gide nasce do estreito que comprime a torrente ('La porte étroite' tem a ver com isso). Em termos mecânicos, faz-nos pensar numa alavanca.
Em comparação, o que é a riqueza do 'podre de rico' expressão popular que tão bem descreve a espécie de maldição associada ao dinheiro, mas hoje quase incompreensível?
Tal riqueza desespera de se converter noutra coisa, através da escolha. E assim não se pode contrapô-la à força que resultaria de uma decisão. É um impasse ético.
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