"Os contos da lua vaga" (1953-Kenji Mizoguchi)
As vezes que eu já vi "Os contos da lua vaga", e de cada vez me deslumbram!
Genjurô fica obcecado pelo dinheiro que consegue ganhar com a sua bela cerâmica, mas enquanto procura vender as suas peças na cidade, apaixona-se pelo fantasma da princesa Wakasa e perde a mulher que ama (Myagi). Tôbei, um campónio desmiolado, sonha em ser samurai. Mas levando ao general inimigo a cabeça dum nobre, a cujo suicídio, por acaso, assistiu, consegue a almejada promoção, só para vir a encontrar numa casa de prostituição a mulher que tinha abandonado.
A realização do sonho destes homens trouxe a desgraça das testemunhas de que mais precisavam no seu sucesso.
O apego ao que é causa da nossa perdição, a ilusão do mal estão maravilhosamente representados nas cenas com a princesa defunta.
É o velho sábio que o salva da morte, pintando-lhe no corpo os caracteres duma oração a Buda. Porque era pelo prazer que o fantasma o subjugava, essa captura do órgão pela escrita era melhor do que todas as negações do amante.
Nesse idílio funesto, há uma cena intransigentemente ascética. O oleiro toma banho no jardim da princesa, numa espécie de concha. Vemos a sedutora retirar apenas uma peça do seu quimono que nada descobre. Mas, logo a seguir, os olhos ardentes e os braços estendidos de Genjurô dizem-nos melhor do que o corpo nu que a mulher imaginária entrou no banho.
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