'Salvator mundi' (Antonello da Messina)
"A arte liberta-nos da verdade, como dizia Nietzsche." (Romeo Castellucci)
"Sobre o conceito do rosto de Cristo", ontem no Rivoli.
O teatro de Castellucci emancipou-se da palavra; os actores falam um italiano neutro, quase supérfluo, sem as conotações da língua e num estado de transição para a 'matéria'. É ainda teatro? Por que se invoca a raiz política da cena grega?
O teatro de Castellucci emancipou-se da palavra; os actores falam um italiano neutro, quase supérfluo, sem as conotações da língua e num estado de transição para a 'matéria'. É ainda teatro? Por que se invoca a raiz política da cena grega?
Procurar o rosto de Cristo no escatológico é a operação anti-cartesiana por excelência. Como se a ambição de 'salvar o mundo' tivesse deixado o homem para trás e literalmente pretendesse salvar a matéria, torná-la numa metamorfose da 'beleza do mundo' ("Este espectáculo é uma reflexão sobre a decadência da beleza, sobre o mistério do fim." Diz o autor em entrevista ao 'Expresso')
A música de Scott Gibbons e a 'epifania" da conversão do rosto do Cristo de Antonello Da Messina em matéria fecal, com a frase "I am your shepherd" impondo-se sobre a sua negação ("I am not your shepherd") e os tonitruantes decibéis da conclusão fazem lembrar um concerto de 'heavy metal rock' e um anti-Jesus Christ Superstar.
A citação do filósofo do Zaratustra ajuda a esclarecer o que quer dizer Castellucci com a frase: "Vamos ver um espetáculo porque queremos ser enganados. O teatro não serve para mostrar uma verdade, mas sim para a esconder."
E o desafio é pensar no que é que esconde a degradação física do velho pai que ocupa toda a cena, atingindo o olhar de Cristo e provocando a sua segunda 'crucificação'.
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