"-Tu nunca compreendeste que, para um artista, 'exprimir-se', é em primeiro lugar 'compreender'."
(Walter a Sigmund em "O Homem Sem Qualidades" de Robert Musil)
A 'pulsão' para se exprimir tem sido uma explicação banalizada da 'necessidade' da arte. Sim, porque se o artista não puder reprimir a sua força plástica é que um poder maior do que ele não lhe deixa outra saída. É preciso que ele 'se livre' do demónio que não lhe dá sossego.
É fácil reconhecer nesta imagem o tema clássico da 'inspiração' e do 'rapto' do artista, como outro Ganímedes, pelo deus. Tão intuitiva é esta interpretação que o génio é muitas vezes comparado a uma doença crónica ou a uma espécie de alienação. A figura mais representativa deste género de artista é Van Gogh.
Ora, a ideia da personagem de Musil parece não provir dessa linhagem. Porque ninguém 'compreende' forçado pela ideia que quer exprimir nem, muito menos, num estado de 'loucura', quando não se pertence a si próprio.
O que nos leva a esta outra questão: será a 'expressão' artística uma forma de linguagem? Pretender-se-á através dela obter a 'metade do símbolo' que existe no apreciador?
Assim Musil poderia dizer que o artista só se compreende a si próprio quando encontra um apreciador. Questão infinita esta porque o apreciador não coincide com o mercador de arte. Nesse espelho, o artista verá não o que esclarece a sua obra, mas o que faz o seu preço.
0 comentários:
Enviar um comentário