A Trindade (1635/1636-José de Ribera)
A "Trindade" de Ribera, com os seus tons sanguíneos e a maceração do cadáver, é de facto uma "Pietà".
Conservando ainda na posição dos braços a forma da cruz, apoiados sobre uns joelhos que estranhamente humanizam a figura de Deus, Cristo é a imagem do filho morto, como um pedaço de matéria obedecendo à gravidade, na inclinação da cabeça e do tronco com o dramático ferimento, nas pernas que a tensão dum sudário faz flectir.
Mas em vez da piedade no rosto pendente da Virgem, do sofrimento conformado, o que vemos é a severidade do Pai que equanimemente olha em frente, erguendo-se sobre as outras "pessoas" da Trindade.
E a pomba ("que não é deste mundo, nem é pomba") mais parece sair do corpo sem vida do que do peito do ancião.
O resultado desta híbrida imagem que reúne os dois mistérios (o da Trindade e o da Incarnação) é a elipse do Feminino.
Esta sublime pintura dá-nos a pensar o impensável.
Serão aqueles joelhos realmente os joelhos de Deus?
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