quinta-feira, 5 de maio de 2016

O REI DA PÉRSIA




Ciro, o rei da antiga Pérsia, teria dito: "Nunca tive medo de homens que têm um lugar de encontro particular no meio da cidade, onde juram isto e aquilo e onde se enganam uns aos outros." (Calasso).

Onde uma pequena ditadura dos nossos dias treme por causa de um encontro de leitura 'hostil', decerto, mas visivelmente àquem de poder desafiar o regime, o grande rei desvaloriza, ciente de que os putativos adversários se iludem e desconhecem a sua real impotência.

Mas o reino de Ciro não vivia 'em rede'. O seu poder não era um símbolo entre símbolos, nessa rede. Era factual e 'incomensurável'. Que distância vai da revolta de Espártaco a uma revolta 'operária'! Ele não poderia conceber uma mudança no poder de Roma, como um revolucionário dos bons tempos. Se tivesse derrotado Crasso, não seria um símbolo da liberdade, mas um imperador 'sui generis'.

O rei da Pérsia não tinha medo de conspiradores que não dispusessem de um exército. Deixava a intriga seguir o seu curso, sem dúvida até ao ponto em que se sentisse ameaçado. Em suma, não tinha os 'nervos à flor da pele'. Talvez porque não tivesse constantemente nos ouvidos o zumbido da 'aldeia global'.

Por isso, não é certo que os 'conspiradores' se iludam como Ciro pensava. Continuando a ser a 'borboleta' da teoria da catástrofe, o 'sucesso', sempre inesperado, sempre ao lado, ou de outra maneira, contraditório, paradoxal, do actor da rede equivale àquele lonjínquo 'bater de asas'.

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