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"Assim, por exemplo, a responsabilidade por se decidir pelos alimentos geneticamente modificados e os seus imprevisíveis e insondáveis efeitos a longo prazo é impingida ao assim chamado consumidor responsável."
"World at risk" (Ulrich Beck)
O caso é que ninguém, nem mesmo os cientistas, está em condições de garantir o quer que seja em relação ao longo prazo (a não ser, como diz Keynes, que estaremos todos mortos). Assim sendo, 'o consumidor responsável' é uma falácia. Podem dizer-nos daqui a dez anos, como aconteceu com os CFC, que estamos a destruir a camada de ozono com os nossos tão cómodos 'sprays', coisa que os inventores do produto não sabiam, nem talvez pudessem saber.
No fundo, ninguém pode ser chamado de responsável pelo que não pode controlar. A parte de responsabilidade do cientista em trazer a 'descoberta' ao mundo dilui-se na organização da ciência pelo Estado ou pelas empresas. Para ele, eventualmente, o Nobel, para os patrocinadores o rendimento das aplicações. Para a maioria nacional, ou dos países-refugo, os 'efeitos secundários', como o envenenamento ou os desastres ecológicos.
É o que Beck chama de 'irresponsabilidade organizada'. Irresponsabilidade porque é baseada no não-conhecimento e na (dis)simulação. Mas com todo o potencial energético e a ambivalência da criação/destruição de uma organização.
Não podemos, contudo, enfrentar esta situação trágica, que é, no fundo, a questão da morte, pelo que precisamos de 'encenar' um mundo de indivíduos responsáveis, que sabem o que fazem quando põem nas mãos dos políticos (e dos fanáticos) a bomba nuclear, ou quando dinamitam a economia com teorias mais ou menos perfeitas.
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