"Pode ter direito a grandes estadias nos hospitais, a contactar com o segredo das tecnologias mais complicadas e, até, a algumas operações extra. Se tiver essa sorte pode, finalmente, exibir as cicatrizes como sinais da conspiração que o vitimou. Como sempre, na hipocondria, deve ter à mão uma enciclopédia médica. Mas também pode bater-se para passar a sua vida nos hospitais. Vai aprendendo, e é sempre uma estupenda oportunidade para constatar a falta de justiça que pesa sobre a humanidade."
"Como tornar-se doente mental" (J.L. Pio Abreu)
Este livro, de alguém que sabe do que fala (Pio Abreu é psiquiatra), é surpreendente a mais de um título.
Não é por acaso que em quase todas as doenças mentais, o doente luta ao lado da doença, como se fosse essa a sua razão de viver. Nada melhor, então, em vez de desfiar o rosário de conselhos e de prevenções, do que entrar, humoristicamente, nesse mundo às avessas e promover aquilo que o autor chama duma "carreira mórbida".
O exercício é útil para todos. Pelo caminho, percebe-se que o mundo dos psicólogos e psiquiatras é parte da patologia (ainda com mais propriedade se pode falar aqui em efeito iatrogénico) e que a simplificação e o bom senso não interessam a ninguém.
A simples inércia dos interesses instalados, desde os especialistas aos laboratórios farmacêuticos prometem ao nosso PIL (Produto Interno da Loucura) um confortável desenvolvimento.
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