"Por todos os meios, os estupefacientes, as ilusões, a sugestão, a fé, a convicção, algumas vezes simplesmente graças ao poder simplificador da estupidez, o homem esforça-se por criar um estado que se pareça com esse. Ele crê nas ideias não por acontecer que sejam verdadeiras, mas porque 'deve' crer. Porque 'deve' fazer reinar a ordem no seu coração. Porque deve tapar por meio de uma ilusão esse buraco nas paredes da sua vida através do qual os seus sentimentos só pedem para fugir a todos os ventos."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
O poder simplificador da estupidez. Mas não é esse poder que nos permite a todos viver sem angústia, sem nos pormos todos os problemas de que é capaz essa estrela do universo que é o nosso cérebro?
Por alguma razão se diz que há um enigma na estupidez. Há um enigma na própria simplificação. Por outro lado, é verdade que a maior parte dos nossos erros vêm desse 'piloto automático' que, em geral, nos facilita tanto a vida.
O sonho da robotização integral esconde essa vontade profunda de 'cairmos da estrela'. Pulsão de morte, como dizia Freud?
A 'ordem no coração', pelo seu lado, é verdade que tem a ver com a 'segurança interior', ordem permanentemente ameaçada, como 'o socialismo num só país', pela submersão na totalidade, no absoluto desconhecido, o contrário da 'casa do ser' (Heidegger).
A técnica dos diques podia servir como símbolo deste 'tapar o buraco' de que fala Musil.
A 'ordem no coração' seria então o fundamento da ordem política, e todos os meios, inclusivé as teorias do conhecimento, estariam ao seu serviço.
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