"A Razão ocidental foi edificada quando Platão lançou as suas bases em reacção ao questionar radical e infinito de Sócrates."
(Michel Meyer: "Principia Rhetorica")
E o que pode obrigar o pensamento a estar de acordo consigo próprio, em vez de o estar com o mundo? Que outra coisa senão a lógica?
Sócrates empregava também a lógica, mas fora de qualquer sistema. Daí que a sua 'guerrilha' intelectual, o seu método de confrontar os seus interlocutores com as consequências do que diziam pensar, os embaraçava infalivelmente. Eles não tinham ainda o refúgio dum sistema implícito. O politeísmo desencorajava o 'ponto de vista' predominante, quando se punha em causa a tradição e a opinião (a 'doxa').
A autonomia da lógica (e da matemática) tanto pode ser fonte de ordem como de desordem. Até certo altura, a ciência estribou-se nos testes da experiência que lhe permitiam obedecer ao 'critério da verdade', como dizia Marx.
Descolámos, entretanto, da 'experiência humana', do qual o fim do humanismo é o melhor símbolo. A 'verdade' tende a confundir-se com a lógica. O desenvolvimento da ciência (que começou com a religião, não o esqueçamos) já deixou há algum tempo o planeta e a dimensão antropológica.
Mas o cosmos que serve de referência é teórico e não se sujeita à prova.
Sócrates pode sorrir, por detrás das nuvens.
(*) Compararam Sócrates à tremelga (da família das raias), por 'electrizar' a sua audiência.
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