Giacomo Leopardi |
"A corrupção dos costumes é mortal para a república e útil à tirania e à monarquia absoluta: isto só, basta para julgar da natureza e das diferenças destas duas espécies de governo."
(Giacomo Leopardi, "Zibaldone")
A corrupção que está na ordem do dia, e que até é aferida por um 'barómetro' internacional, tem alguma coisa a ver com os costumes?
A antiga sociedade romana mudou de carácter com a penetração das culturas orientais, com a liberdade de culto aos deuses estrangeiros (exceptuado o proselitismo dos cristãos, que por muito tempo foram perseguidos, até que a "religião dos escravos" se tornou a religião oficial, com Constantino). A relativização dos próprios valores romanos contribuiu para o langor da decadência deste povo vigoroso.
Não obedecendo, evidentemente, a um plano, a uma intenção de corromper, este fenómeno parece não ter qualquer comparação com o que é registado no nosso 'barómetro'.
Mas é caso de falar numa corrupção passiva que passa sem alarme (e até serve a política corrupta de alguns regimes que vão ao ponto de adoptar medidas de 'anti-corrupção' contra os seus adversários. O PC chinês tem uma política oficial 'moralista' contra a corrupção dos seus funcionários que visa tanto a eficácia da linha oficial, como afastar as atenções dos vícios constitutivos.
Em princípio, uma tirania ou um poder absoluto (contra a opinião de Leopardi) 'legalizam' a corrupção. Ela passa a ser uma regra que todos, de uma maneira ou de outra, têm de seguir. "O poder absoluto corrompe absolutamente"(Acton) porque deixa de ser necessário 'prestar homenagem' à virtude através da hipocrisia.
É na democracia que cresce o número dos ambiciosos sem escrúpulos que, por natureza, estão dispostos a torcer as boas leis, para atingirem os seus fins. E são esses que, ao mesmo tempo, têm de saber prestar a devida vénia à lei e à 'vontade do povo'.
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